Por Eunice Ramos, TV Centro América
Durante audiência realizada na sexta-feira (27) na 11ª Vara Criminal de Cuiabá, o cabo da Polícia Militar Gerson Corrêa Júnior, acusado de participar de um esquema de escutas telefônicas ilegais, assumiu a prática de grampos clandestino.
Gerson afirmou que as interceptações foram financiadas pelo primo de Pedro Taques (PSDB) (Foto: José Medeiros/Scom MT)
Essa tática teria sido usada para espionar médicos, advogados, políticos de oposição ao atual governo e jornalistas durante os anos de 2014 e 2015.
Gerson afirmou que as interceptações foram financiadas pelo ex secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, primo do governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB).
Ex-secretário da Casa Civil de Mato Grosso, Paulo Taques (Foto: Mayke Toscano/Secom-MT)
A defesa do advogado Paulo Taques nega as acusações e informa que se pronunciará nos autos.
Gerson declarou que, a pedido do coronel Zaqueu Barbosa, foi até o escritório de Paulo Taques e recebeu dele uma mala com R$ 50 mil em dinheiro com a finalidade de grampear adversários políticos de Pedro Taques, que na época era candidato ao governo.
Ele contou ainda que as escutas começaram em setembro de 2014 e se estenderam até setembro de 2015. Nessa época, o esquema, que era comandado pelo coronel Zaqueu Barbosa, teria sido suspenso, em razão de vazamentos de informações.
Ex-comandante da PM, coronel Zaqueu Barbosa; ex-chefe e ex-adjunto da Casa Civil, coroneis Evandro Lesco e Ronelson Barros; e o cabo da PM, Gerson Correa (Foto: Montagem)
O coronel Zaqueu também foi ouvido durante a audiência e negou qualquer envolvimento com a inserção ilegal de números telefônicos de pessoas que não eram investigadas ou sem a devida autorização da justiça, no esquema conhecido como barriga de aluguel.
Também prestaram depoimentos os coronéis Evandro Lesco e Ronelson de Barros e o Tenene- coronel Januário Antônio Batista, que também são acusados de participar dos grampos clandestinos. Eles negaram participação no esquema.
Em nota, o governador Pedro Taques, informou que, ele mesmo determinou a apuração de todos os fatos relacionados às supostas escutas telefônicas clandestinas assim que a denúncia chegou ao conhecimento dele, em 2015.
Disse ainda que solicitou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que ele fosse investigado neste caso para comprovar, perante a Justiça, que não teve qualquer envolvimento nos fatos narrados por terceiros.
Os telefones foram interceptados com autorização judicial. Os documentos pedindo à Justiça autorização para isso foram assinados pelo cabo da PM, Gerson Luiz Ferreira Correia Júnior, numa suposta investigação de crimes cometidos por PMs.
No entanto, foram juntados os telefones de quem não era suspeito de crime algum, numa manobra chamada “barriga de aluguel”.
Telefones foram interceptados com autorização judicial (Foto: Reprodução/TVCA)
O caso foi denunciado pelo promotor de Justiça Mauro Zaque. Em depoimento encaminhado à Procuradoria-Geral da República, oele afirmou que, naquele ano, ouviu o coronel Zaqueu Barbosa, comandante da PM à época, dizer que as interceptações telefônicas eram feitas por determinação de Pedro Taques (PSDB).
Zaque alega ainda que levou o assunto ao governador, que ficou constrangido, mas não fez nenhum comentário.
O promotor ainda afirmou que alertado o governador sobre a existência de um “escritório clandestino de espionagem” por meio de dois ofícios. O primeiro chegou a ser enviado para o Ministério Público Estadual (MPE), mas a investigação foi arquivada por falta de provas.
O segundo ofício, que o governador alega nunca ter recebido, foi protocolado na Casa Civil, mas cancelado no mesmo dia e substituído por outro, conforme apontou auditoria da Controladoria Geral do Estado.
Antes do relatório da CGE vir à tona, Pedro Taques chegou a entrar com representação contra Zaque em instituições como o Conselho Nacional do Ministério Público e a PGR, acusando-o de falsificação de documento público.